MINHA CASA, MINHA VIDA.
Prefeitura de Sobral, no Ceará, entrega conjunto habitacional, mas abandona moradores a própria sorte.
Prefeitura de Sobral, no Ceará, entrega conjunto habitacional, mas abandona moradores a própria sorte.
Documentário revela a gravidade do problema em Sobral, no Norte do Ceará.
Segundo moradores, quem está tomando conta do residencial são os bandidos e suas diversas facções que já se instalaram no local. Dos 3.300 apartamentos que estão sendo construídos pelo programa Minha Casa, Minha Vida, 1.104 foram entregues faz seis meses, e o local já está se transformando numa favela. A construção do novo conjunto habitacional mudou o cotidiano dos moradores dos bairros vizinhos. Assaltos e arrombamentos de residências, tem afetado gravemente o mercado imobiliário naquela região da cidade. Moradores da COHAB III e Renato Parente estão aflitos, alguns já se mudaram temendo a onda de assaltos e roubos a residências, registrados pela polícia durante os finais de semana. No Renato Parente, dezenas de casas estão a venda, ou para alugar, mas falta compradores. O principal motivo na desvalorização desses imóveis, foi a onda de violência, que segundo moradores, surgiu após a inauguração do novo conjunto.
Desde abril do ano passado, o governo federal já
registrou 164 casos parecidos em todo o país. Este ano, já foram registrados
54. Em Sobral, cidade distante 230 km de Fortaleza, o problema é tão complexo,
que chegou a atingir o mercado imobiliário, desvalorizando em até 30%, os
imóveis localizados nas proximidades do novo conjunto.
A presidente Dilma Rousseff minimizou o problema,
ao entregar casas em Feira de Santana (BA), na última semana. “Um defeito aqui,
outro defeito ali”, relatou durante seu discurso. Mas em Sobral, com apenas
seis meses, o conjunto Novo Caiçara, já é considerado um dos bairros mais
perigosos do município, chegado a ser chamado de “carandiru”, pelos próprios
moradores e também pela polícia. O alto índice de violência, a presença de
facções rivais, o consumo e tráfico de drogas, começou a expulsar famílias que
já estão procurando a Caixa Econômica Federal para negociar a desistência do
contrato de financiamento assinado. Os beneficiados pagam 25 reais por mês
durante cinco anos.
HOMICÍDIO
No último dia 13 de fevereiro, o jovem Wislei
Araújo de Sousa 13, foi morto com vários tiros, por dois homens numa
motocicleta. Ele estava confeccionando uma pipa, contou sua mãe. Dona Lúcia
revelou que muitas mães estão indo embora do conjunto porque tem filhos
marcados para morrer. Ela contou ainda, que a prefeitura prometeu prestar assistência
e acompanha-los de perto por 12 meses, mas foram abandonados. Testemunhas
contam que Wislei foi morto por engano. O crime assustou as 1.104 famílias que
ali residem há seis meses. Segundo a prefeitura, outros 2.200 apartamentos
ainda serão entregues, no mesmo conjunto habitacional do programa Minha Casa
Minha Vida em Sobral. Mas muitas famílias estão desistindo de ir morar nas
casas do programa, depois da morte do jovem em fevereiro.
Na foto: Instalações de cobre foram roubadas por usuários de drogas
Na última sexta-feira 27, pelo menos um dos blocos
do Novo Caiçara alagou após uma forte chuva. Cerâmicas estão soltando nos
banheiros, o salão de eventos foi destruído e pichado por vândalos. Brinquedos
quebrados, quadra dominada por gangues, rachaduras nas paredes, esgotos
estourados, todos os extintores já foram roubados, tubulações de cobre que
deveriam levar o gás de cozinha até o fogão, também estão sendo roubados. Outro
grave problema é a falta de assistentes sociais e de profissionais do CAPS AD,
para acompanhar as crianças que passam o dia cheirando cola na frente de
estudantes e famílias inteiras, A soma de problemas tem causado muita
preocupação para a prefeitura e para os órgãos de segurança pública desse
município, mas nada vem sendo feito.
Há duas semanas, um grupo de aproximadamente 50
famílias invadiram terras públicas e privadas no bairro Recanto II. Elas
relatam que aguardam ser chamadas pelo programa há quatro anos e denunciaram
fraudes no processo de seleção. “Aqui em Sobral eles escolhem pela cara”,
gritava uma manifestante. A prefeitura chegou a oferecer apartamentos no Novo
Caiçara, mas ninguém aceitou a proposta, alegando a violência instalada no
local.
Além desses problemas, as invasões e até expulsão
de moradores dos imóveis começaram a surgir pelo país. O governo federal
registrou 164 denúncias do tipo desde abril de 2014. Só este ano, foram 54
registros.
O pedido de socorro, não vem só do Novo Caiçara do
Minha Casa Minha Vida, em Sobral. Outros 15 estados estão sofrendo o mesmo
problema. No ranking de denúncias, Brasília está em primeiro lugar, o Rio de
Janeiro fica em segundo lugar, com 17 registros, só perdendo para a Bahia. Em
Sobral, há famílias inteiras intimidadas pelas ações dos criminosos. “Eu tenho
um filho marcado para morrer, se eu for morar no Novo Caiçara eu vou perder o
meu filho”, conta uma mãezinha que desistiu de assinar o contrato com a CEF.
Na foto: Apartamentos abandonados estão sendo invadidos por vândalos e estrutura sendo roubada.
O pedreiro Antônio da Silva Barbosa, é um dos
beneficiados pelo programa em Sobral. Ele se diz arrependido de ter deixado sua
casa no bairro Terrenos Novos, onde pagava 250 reais de aluguel. “Eu juro por
Deus que me arrependi. Minha esposa está tentando negociar a desistência do
contrato com a Caixa Econômica. Eu morava numa favela, mas lá, bandido
respeitava a gente e os meus filhos podiam brincar na calçada”, desabafou. Ele
conta ainda que um de seus filhos já foi expulso dos brinquedos sob ameaça de
um drogadito com um espeto de madeira na mão.
O Ministério da Justiça, que centraliza as
denúncias, confirmou que vem recebendo as reclamações. Há casos de invasões,
expulsões, tráfico e outros problemas graves de segurança em projetos do Minha
Casa Minha Vida no Ceará, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Maranhão, Santa
Catarina, Pará, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Goiás, Acre
e Paraíba, além de Rio de Janeiro e Bahia. A pasta deu o ranking, mas não
informou o número de denúncias por estado, com exceção do Rio.
Em Goiás, o procurador da República Ailton Benedito
de Souza, integrante do Ministério Público Federal que acompanha denúncias
sobre o Minha Casa Minha Vida, diz que cada estado tem suas peculiaridades.
Na foto: Adolescentes consomem drogas livremente no conjunto do Minha Casa, Minha Vida, em Sobral.
No Rio, as pessoas são expulsas pelo tráfico e por
milícias. Em Sobral, os moradores do Novo Caiçara, não querem permanecer em
locais com forte presença de venda de drogas, consumos de entorpecentes
abertamente, frequentes roubos, vandalismo, e facções rivais que foram
colocadas para morar no mesmo conjunto, o que acaba fazendo muitas famílias se
mudarem, comentou um oficial da polícia militar. Já no Jatobá I e II, a
convivência entre vizinhos e o tráfico de drogas é o que mais tem incomodado —
Como não há possibilidade de devolver o imóvel por esses motivos, o
beneficiário está colocando familiares para ocupar os imóveis.
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